terça-feira, 15 de julho de 2003

Ser Homem - Pensamentos furtivos

Ser Homem é uma experiência que muito perturba, quando nos meandros do crescimento se foi testemunha de intensos episódios cujo entendimento se escapa, fruto da pouca compreessão que se tem do mundo envolvente.

Um homem atormentado, povoado de equívocos, semeado de plantações, mantidas suspensas, prontas a desabrochar, ansiosas de alimento, adubo e água que as elevem da envolvência abafante duma terra ora seca ora alagada. Um sempre adiado ressurgir, um intoxicado assumir das formas próprias.
O mal do futuro equaciona-se na sua sempre adiada presença, projectado sempre para além do alcance, a perda duma oportunidade com consequências lamentáveis, se não devastadoras - um mal incontornável, um tormento devastador acabado às portas duma morte inevitável. Uma morte que parece sugerir uma intrigante dimensão de paz.

Engendra-se na revolução um ressurgir das forças dispersas nas lutas inebriantes do ser com o ser. Um afluxo de coragem que se eleva e veste de seriedade o homem emaranhado, contorcido nas questões sucessivas que o mantêm disperso e afastado do mundo contíguo a si próprio.

Claro que há revoluções e revoluções, escusado será prosseguir; um cheiro comprometedor pode misturar-se nos espaços! (Esta pode bem ser uma daquelas frases inúteis que na fogueira já desintegraram muitos homens).

A exploração do homem pelo homem é ferramenta próxima que sem darmos conta utilizamos abundantemente, camuflada por propósitos digníssimos, que de digníssimo pouco têm, mas será melhor acabar aqui, a fogueira já se refastela com a refeição próxima.

O mal de alguns homens consiste em insistirem em que qualquer coisa tem sempre alguma explicação, alguma função, algum interesse. Nada se assume sem uma intransigente racionalização, apaziguadora do espírito perturbado pela ignorância, assumida como uma enfermidade imposta pelo acto da existência. Viver torna-se uma trabalheira toda cheia de sobressaltos e incomodativas e eternas questões, tão distantes daqueles sábios homens que só se ocupam com o momento, expurgando do espírito essas tormentas dos ditos homens preocupados, que em tudo vêem uma consequência dum qualquer fenómeno.
Enfim, para se ser homem feliz é necessário aprender-se a viver com essa dita ignorância, obsessivamente tida como factor limitador do espaço, nas suas fronteiras interiores e exteriores.

Não seria de mais estabelecer um diferencial entre o Homem tido como corrente, e o outro, espécie de louco , repartido entre episódios do anterior e sucessões de uivantes Lobos das Estepes , ou ressonantes Leões, ora de barriga para cima, ora intempestivamente buscantes de alimento.
Haverá ainda, eventualmente, uma outra categoria de Homens, alienados sem opção, cansados do mundo e das desconcertantes exigências por ele solicitadas, exilados no seu interior ameno ou tempestivo, conforme o caso.

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