Pelos olhos começa o mundo quando eles se abrem. Acontece a vida de forma crescente e contínua.
Pelos olhos se interrompe o mundo quando eles se fecham. Projeta-se a vida no ecrã alimentado pela memória interior.
A vida é uma viagem que começa num olhar que se abre e fecha, e segue numa troca, numa comunhão, num compromisso.
A viagem prossegue entre estações que se sucedem num trajeto que segue as posições num mapa mundo que vai crescendo com o tempo.
Mas um dia os olhos fecham-se e ficam fechados. A luz do mundo não mais entra. A viagem interrompe-se nesse mapa mundo testemunhado pelos olhos.
Há quem diga que a viagem se transfere e passa para um outro mundo que não se vê com esses olhos biológicos.
Entre os mundos não sobra história, nem notícias. Cada um só se vê a si. Só o Deus pode ver todos os mundos, se Ele, ou os mundos existirem!
A vida fecha-se criando uma ausência que se sente, que fere e agride, muitas vezes.
O tempo, o tempo acrescenta tempo. Um tempo necessário para que a vida prossiga e os olhos se abram e vejam o que está no mundo, e transforme as formas em descrições, em palavras significativas e cheias de volume.
Uns olhos testemunham o que os outros olhos fazem. Os últimos desligam o tempo e fecham o mundo, deixam que os primeiros fiquem encharcados de uma ausência penetrante e corrosiva. Os olhos fazem os químicos internos desnortearem a ordem perfeita e ficarem descontrolados numa fazedura caótica, aleatória, encharcante.
Uma humidade tímida, ansiosa, escorregadia, sai dos olhos, dos olhos que ficam, dos olhos que testemunham a partida dos outros olhos companheiros. Os olhos idealmente comungam aos pares numa dança circulante, abundante, cúmplice.
A partida de uns olhos deixa nos outros olhos um vazio, uma serena lágrima que escorrega pelo rosto, uma solidão que como o nevoeiro se vai dissipando com o passar do tempo…
José Guilherme | 28Set2017
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