terça-feira, 21 de março de 2017


Estou aqui a olhar à volta. Estou aqui a pensar incessantemente. Estou aqui a desejar encontrar uma forma de abreviar o pensamento. Estou aqui a pensar, a pensar, a pensar…. Forma-se-me no pensamento um desejo de plenitude, uma continuidade de comunhão, de partilha.

Sinto no meu peito, no interior dos meus braços uma escassez, um desejo, uma ausência, um querer intenso, uma crescente imagem mental, uma imaginação, um cheiro virtual, um desejo perturbador de apertar nos meus braços a forma volumosa de outro corpo externo ao meu. Forma-se no meu rosto uma presença subtil que permuta calores e cumplicidades. Desejo, desejo, desejo… o cheiro quente e perfumado que se evapora da superfície macia… dá-me uma quase dor que se entrenha nas células da minha carne e desidrata os caminhos onde se deslocam os eletrões que transportam o sinal da vida, a energia determinada que se irradia da pele sossegada da minha paixão, do amor completo, o amor que se propaga num espaço contiguo ao meu onde o pensamento alcança, mas onde os dedos só alcançam quando o espaço encolhe e  se engelha ao meu redor.

Sinto falta de mim aqui tão perto que estou, sinto falta dos meus amores aqui tão dentro do meu peito mas tão ausentes da minha mão… quero agarrar, quero apertar, quero amaciar…


Escritos, José Guilherme, 21Mar2017